A TORQUÊS E O MARTELO
Ana Trajano
Das aparições da Mãe de Deus registradas pelo mundo, uma das mais comoventes é a de La Salette, na França, em 1846. Ali, nossa senhora apareceu a duas crianças, também pastores: Maximin Giraud, de 11 anos, e Melanie Calvat, de 15.
Nas montanhas de La Salette, em sua primeira aparição, eles a viram pela primeira vez, sentada sobre uma pedra, com as mãos na face, e chorando copiosamente. Chorava de tristeza pelos pecados dos homens, por suas ofensas a Deus e pelos castigos que viriam. Por si, essa imagem já é tocante. A eles, Maria disse que segurava a mão de seu filho, adiando esse castigo; porém, iria chegar o momento que isso não seria mais possível.
Outro fato singular são as vestes usadas por Nossa Senhora nessa aparição: vestido igual ao das mulheres locais, longo, com um avental à frente e lenço às costas. Usava uma grossa corrente adornada de rosas e, nos pés, flores também ladeavam seu calçado.
Porém, chama atenção um detalhe - o mais significativo - nesses adornos descritos pelos pastorinhos. Eles contam que a Virgem Maria tinha, ao pescoço, uma segunda corrente mais fina da
qual pendia uma cruz com um martelo pendurado em um de seus braços e uma torquês no outro.
Indagada sobre o significado, a Virgem disse às crianças que o martelo representava aquele com o qual os homens crucificaram - e continuam crucificando - seu filho prendendo-o à cruz. A torquês, ou alicate, foi (é) a ferramenta utilizada para retirá-lo.
Algo, como vemos, carregado de rico simbolismo. Temos esse martelo e essa torquês dentro de nós. O martelo representa o mal com o qual crucificamos o Cristo quando deixamos que em nós prevaleça o mal sobre o amor que Ele é; quando maltratamos o Jesus que nos aparece todos os dias maltrapilho, faminto e de tudo carente, na figura do nosso irmão.
O martelo é a violência, a injustiça, a opressão, a intolerância.O martelo prende o Cristo na cruz, mas sobretudo nos prende ao pecado por prende-Lo.
A torquês representa o bem, o que liberta o Cristo preso à cruz. Cabe a nós decidir que ferramenta utilizar na nossa relação diária com o Cristo. Ele, como um cordeiro inocente, espera-nos. Que não sejamos seus carrascos, mas quando formos, saibamos dispor da nossa torquês, do nosso arrependimento, do nosso pedido de perdão.
