Do Romantismo a Ecofilosofia: uma visão
holística do mundo (Parte II)
Ana Trajano
holística do mundo (Parte II)
Ana Trajano
Concluímos o
texto anterior falando de homens que, desafiando o seu tempo, ousaram lançar
outro olhar sobre a natureza, e a nossa relação com ela, alertando sobre os
danos, para ambos, o modo como até então a enxergávamos: um mecanismo frio, sem
alma, que serve apenas a nossa ambição.
O que tem em
comum todos eles? Seu espírito visionário, sua coragem e os movimentos que fundaram,
ou influenciaram, em tempos distintos, isto é, o Romantismo, no século XVIII, e
a Ecofilosofia, de Naees, no século XX. Esses dois movimentos
entrelaçam-se num mesmo objetivo: uma
visão holística que promova a união do homem com a natureza, a fusão completa
entre o ser e o mundo.
Tentemos,
agora, caracterizar estes movimentos e, através disto, estabelecer conexões
entre ambos. O Romantismo teve início em fins do século XVIII, na Alemanha, e,
aos poucos,alastrou-se por toda Europa, continente em crise que fervilhava com
as mudanças, revoluções, particularmente a francesa. A própria Alemanha lutava
ainda por sua unificação. Somando-se a tudo isso os ideais iluministas
inquietavam a juventude, ou pelo menos parte dela.
É no próprio
Iluminismo onde se encontra a primeira semente do Romantismo, na figura de Jean
Jacques Rosseau. Primeiro opositor ao culto frio a razão, pregado pelos iluministas, ele
passou a assegurar que “os sentimentos naturais conduzem o homem para o caminho
correto, enquanto a razão o desvirtua.” Rosseau certamente referia-se a um modo
de pensar que vinha desde Descartes, e que reduzia a identidade do homem à
mente, agora acentuado com os ideais iluministas.
De espírito
visionário, ele enxergou que, acrescentando-se a isso, os ideais da sociedade
capitalista, já tão fortes, que limitavam o desenvolvimento humano apenas ao
progresso material, iriam culminar em desequilíbrios na relação do homem com a
natureza, com grandes prejuízos para esta, ou para ambos.
Para Rosseau,
todo mal começou quando “o primeiro a que veio a ideia de cercar um lote de
terra e de afirmar: “ isto me pertence”, e que encontrou pessoas
suficientemente ingênuas para acreditar nele, foi de fato o fundador da
sociedade burguesa. De quantos crimes, guerras, assassinatos, miséria e
atrocidades teria poupado a humanidade aquele homem que tivesse arrancado os
mourões, nivelado as valetas e convocado seus companheiros: “guardai-vos de
acreditar nesse enganador! Estais perdidos se esqueceis que os frutos pertencem
a todos e a terra a ninguém.”
Deduz-se,
assim, que da posse surgiu o poder absoluto sobre a terra, o domínio sobre ela
e, com ele, a ganância. Mal que faz o homem esgotar todos os seus recursos, não
lhe bastando tirar apenas o suficiente para o sustento, mas arrancando-lhe
muito além do necessário para aquilo que considera progresso, e para seu
desenvolvimento pessoal.
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