Do Romantismo a Ecofilosofia:
uma
visão holística do mundo
(Primeira parte)
Ana Trajano
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| Imagem: Google |
Houve um tempo no
qual o homem curvava-se diante dos trovões, dos relâmpagos, da chuva que caía.
A natureza estava acima dele, e ele ainda não havia desenvolvido a consciência
egoica de que a razão o coloca em um patamar de superioridade com
relação aos demais seres e ao mundo em que vive. Mas, aos poucos, esta
consciência foi se desenvolvendo, e do medo nasceu o desejo de domínio, do desejo
de domínio o de exploração: da natureza, de todas as criaturas.
Hoje, o homem
já não se curva com reverência, ou medo, diante dos trovões, dos relâmpagos, da
chuva que cai, mas já não sabe o que fazer com as consequências da destruição
ambiental, da devastação provocada não apenas pela busca de suprir suas
necessidades, mas pela ganância, pelo conceito de desenvolvimento que formulou.
Neste, parece estar invertida a posição dos verbos, na conjugação de uma convivência
harmônica, com os demais seres, com o mundo em que vive, pois o “ter” vem
sempre posicionado sobre o “ser”.
Chegamos a um
ponto em que a raça humana corre o risco de extinção, caso não venha a rever
todos os valores nos quais baseou suas sociedades. Mas a partir de que instante
começamos a correr este risco? A partir do instante, talvez, em que nos
colocamos à parte da natureza, em que nos distanciamos dela, em que perdemos o
sentido de unidade, de que somos um com ela, e passamos a enxergá-la apenas
como um punhado de matéria pronta para ser explorada.
Houve um tempo
no qual este sentimento existiu em vários povos, ou civilizações primitivas que
viam a natureza como mãe, que sabiam fazer parte do mesmo tecido cósmico
(druidas, celtas, ciganos), mas à medida que o homem se distanciava dela, foi também destruindo essas culturas,
demonizando suas crenças, como o faz sempre que observa algum empecilho para os
seus objetivos, mesmo que sejam os mais cruéis.
Poucas foram as
pessoas, num passado recente, que viram a natureza como um organismo vivo que
pode – e está- sendo morto a cada pancada, a cada mar poluído, floresta
devastada, solo infértil com os venenos que lhe cobrem. Mas essas pessoas como
que deixaram impressos sua marca, sua palavra, seu grito de alerta que ecoa nas
páginas da história sempre que atravessamos grandes crises.
O que nos
lembram esses homens? O mesmo que nos lembrou Beethoven quando, já surdo, nos
disse, nos acordes da Nona Sinfonia, “que todos os homens são irmãos.” Nos bradam
o mesmo que bradou Rosseau, ao nos mostrar como única saída o retorno à natureza.
Nos alertam, como fez Novalis, que “a natureza é inimiga de posses.” Tentam,
por fim, nos fazer entender, como o fez Arn Naees, que é urgente unir a alma do
homem à alma do mundo, pois não existe o “eu e o mundo, mas o eu no mundo.”
Continua
na próxima semana.

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